Por Universos Nunca Dantes Navegados

Há cerca de dois anos, no Fórum Fantástico 2005, foi apresentado o projecto editorial de Luís Filipe Silva e Jorge Candeias de uma antologia de ficção fantástica lusófona. Tendo a adesão superado as expectativas dos seus editores, foi seleccionado um conjunto de contos a serem publicados por eventuais editoras interessadas.

Dois anos depois, Luís Filipe Silva revela a edição final da antologia Por Universos Nunca Dantes Navegados.

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Nas suas palavras, trata-se de uma nova Antologia de contos e novelas de literatura fantástica moderna da língua portuguesa, lida por elfos e extraterrestres, recheada de aventuras mágicas no reino das leis da física, polinsaturada com dispositivos mecânicos e unicórnios, a transbordar de feitiços e manuais de instruções, que sobreviva em atmosferas pesadas de noventa gravidades e lagos de metano, que se reproduza autonomamente na presença de papiro, e cujo Primeiro Contacto se faça no derivado lusitano do latim.»

O objectivo é criar um espaço para o imaginário em português. Que nos relevasse se há uma forma diferente e própria de pensar o futuro. Que incentivasse a escrita no formato conto. Que acolhesse literatura fantástica em todas as manifestações, da tecnofantasia ao mito. Que desse uma oportunidade igual a autores conhecidos e desconhecidos, deste e do outro lado do Atlântico, de se mostrarem no seu melhor.

Desta, resultou a selecção final das 14 histórias que se apresentam neste livro, da pena de autores portugueses e brasileiros. Os contos seleccionados são da autoria de João Ventura, Wolmyr Alcantara, Yves Robert, Octavio Aragão, Jorge Candeias, Gabriel Boz, Telmo Marçal, Carlos Orsi, Carlos Patati, Sofia Vilarigues, António Candeias, Maria Helena Bandeira e Carla Cristina Pereira.

A antologia será apresentada no Fòrum Fantástico com a presença de Luís Filipe Silva e alguns dos seus autores.

C. B. Cebulski

C. B. Cebulski é editor e argumentista norte-americano na Marvel, a companhia líder mundial de comics. Desde cedo, o seu fascínio por manga e anime levou-o ao Japão onde viveu vários anos e iniciou contactos com toda uma série de artistas e criadores japoneses.

No trabalho que desenvolveu para a Central Park Media, Cebulski deu a conhecer alguns títulos fundamentais da banda-desenhada japonesa ao público norte-americano, como Lodoss Wars, Slayers, Dark Angel e Geobreeders. Após formar uma forte relação com artistas do Japão, torna-se um dos primeiros editores norte-americanos a criar manga e anime pensada para o público ocidental.

Na Fanboy Entertainment, colabora com Kia Asamiya na produção da série Dark Angel: Phoenix Resurrection. Seguiram-se outros trabalhos que combinavam a sensibilidade orientais com as temáticas de super-heróis.

Realizando o seu sonho de infância, junta-se à Marvel comics onde trabalhou durante quatro anos como editor e coordenador de talentos, possibilitando cada vez mais colaborações entre o Japão e os Estados Unidos.

Como argumentista de banda-desenhada, realizou trabalhos para X-Men, Spider-Man, Wonderlost e Star Wars Tales.

C. B. Cebulski está presentemente a trabalhar com o artista português João Lemos na criação de Shiki, a ser publicado pela editora Image. De notar que foi responsável pela descoberta e consequente contratação para o mercado norte-americano de quatro jovens desenhadores portugueses (João Lemos, Ricardo Venâncio, Nuno Alves e Ricardo Tércio).

Shiki

A sua visita a Lisboa insere-se também no âmbito de uma tourné europeia, a Chesterquest, que procura por artistas ambiciosos e de talento. Aos melhores 12 artistas europeus, será garantido um emprego na Marvel, pelo que C. B. Cebulski irá examinar os trabalhos de todos os potenciais candidatos que queiram aderir a esta iniciativa.

Mais informações podem ser encontradas no blogue do Chesterquest. Os artistas portugueses interessados em tentar a sua sorte terão em breve mais informações e guidelines sobre o processo de submissão de trabalhos. Também podem colocar as vossas questões através do mail forumfantastico@gmail.com

Contos de terror do Homem-Peixe

Uma nova apresentação da antologia Contos de Terror do Homem-Peixe, editada pela Chimpanzé Intelectual, irá ter lugar no Fórum Fantástico, com a presença de vários dos seus autores.

Para além da participação de vários autores portugueses conhecidos, como João Barreiros, David Soares, Possidónio Cachapa, Baptista Bastos, Fernando Ribeiro e António de Macedo, a antologia, ilustrada por João Maio Pinto, contém dois contos premiados pelo concurso promovido no âmbito de uma parceria com a Associação CTLX (Cineclube de Terror de Lisboa) , por ocasião do festival MotelX, festival Internacional de Cinema de Terror em Lisboa.

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Terror, esse género maldito, tão parcamente explorado entre nós, tem, indiscutivelmente, ao longo dos tempos e um pouco por todo o mundo, dado azo a criações de reconhecida qualidade e originalidade. Drácula, de Bram Stoker, Frankenstein, de Mary Shelley, os variadíssimos contos de Edgar Allen Poe e Lovecraft, ou alguns dos incríveis romances de Stephen King, são apenas exemplos dos grandes clássicos literários que marcaram de forma indelével o imagínário da Humanidade, gerando as mais variadas adaptações artísticas.

Revestido de nuances e estilos vários, consuante as épocas, culturas e visões dos autores, e assumindo reconhecido pendor escatológico, no que toca à exploração dos mais essenciais medos, anseios e possibilidades da existência humana, o Terror permite-nos um exercício de purga exorcismante, mas também de imaginação sem limites. O Terror assusta-nos, mete-nos medo, mas faz-nos reflectir, empolar e extrapolar as barreiras do real. Impressiona-nos, mas também nos entretém, e raramente nos deixa indiferentes.

Com esta antologia, composta de onze contos em Língua Portuguesa, o CTLX (Cineclube de Terror de Lisboa) e as Edições Chimpanzé Intelectual pretendem não só homenagear o género, mas também procurar contribuir para impulsioná-lo no panorama literário português, que, até aqui, claramente, não lhe tem dispensado a atenção devida.

W. J. Maryson

Numa tentativa de divulgar mais autores de literatura fantástica fora do circuito anglo-saxónico dominante, tendo sempre sido esta uma das apostas do Fórum Fantástico, este ano damos protagonismo a um escritor oriundo da Holanda.

W. J. Maryson, pseudónimo de Wim Stolk, é o autor mais popular de fantasia épica na Holanda, estabelecendo grande parte da sua reputação com a trilogia do Não-Mago. Escreveu mais de 11 romances e vários contos traduzidos para nove línguas, tendo em 2004, vencido o Prémio Elf Fantasy Award. Para além de escritor, tem uma banda de nome Maryson onde actua como músico e compositor.

O 1º volume da trilogia do Não-Mago, As Torres de Romander, já se encontra disponível nas bancas, sob chancela da Livros do Brasil.

Esta é a história de Lethe, o Não-Mago. Todos o conhecemos das velhas lendas, mas apenas eu consigo vislumbrar a totalidade da história da sua vida. Uma última reviravolta do destino mostrou-me que me cabe a mim fazê-lo. E, uma vez que o mero relato dos factos nunca faz justiça à complexidade de uma existência, decidi escrever este livro como se fora uma ficção. Não que não conte a verdade, claro está, pois testemunhei muitos destes eventos e os restantes foi o próprio Lethe que mos contou.» Pela primeira vez em muitos, muitos séculos, um jovem da ilha de Loh demonstra não possuir nenhum talento para a magia. Por isso, não poderá receber uma formação idêntica à dos seus restantes companheiros. Matei, um dos sete magos mais poderosos do Reino, descobre porém por essa altura, graças ao estudo de um antigo manuscrito e de uma série de sinais dispersos pelas Ilhas, uma força maligna que em cada nove mil anos ameaça a existência do seu mundo. Mas nenhum feiticeiro, por maior que seja o seu poder, parece ser capaz de fazer frente ao horror da magia incolor. À medida que o perigo se aproxima, Matei aperceber-se-á contudo que Lethe, o Não-Mago, possui na verdade uma série de dons cruciais para a sobrevivência do Reino.

O autor estará presente no Fórum Fantástico para a divulgação da trilogia do Não-Mago com o apoio da Épica e a editora Livros do Brasil.

João Barreiros – A Bondade dos Estranhos

Um dos autores mais reconhecidos da ficção científica portuguesa, João Barreiros conta na sua bibliografia com obras como Terrarium (com Luís Filipe Silva) e a colectânea O Caçador de Brinquedos e Outras Histórias.

Responsável por várias colecções de literatura especulativa nas últimas décadas, o autor já foi publicado em Espanha, França, EUA e Brasil. Em 2004, lançou A Verdadeira Invasão dos Marcianos, uma homenagem aos universos de H. G. Wells e Júlio Verne.

Em 2006, apresentou no Fórum Fantástico, sob chancela da Livros de Areia, a noveleta Disney no Céu entre os Dumbos. Em 2007, a editora Chimpanzé Intelectual irá dar o pontapé de saída à publicação e promoção da trilogia de ficção científica, A Bondade dos Estranhos.

Apesar de ser um livro perfeitamente independente, O Projecto Candy Man da autoria de João Barreiros consiste no 1 º volume da trilogia A Bondade dos Estranhos, cujos seguintes dois volumes estarão a cargo dos escritores Luís Filipe Silva e João Seixas, com histórias baseadas no mesmo universo.

Segue-se um excerto do livro que será apresentado pelo próprio autor e editor no Fórum Fantástico 2007.

Joana resolveu fazer um corajoso finca-pé perante esta aproximação feita de sons e odores. Quanto aos sons, as patas da criatura raspam o empedrado libertando dezenas de faíscas que vão morrer entre os fungos semi-líquidos do jardim. O ruído parece-se com um pedacinho de giz a riscar, contrafeito, a superfície de um quadro negro. Os espiráculos respiratórios cumprem as respectivas funções numa melopeia de estalidos sequenciais. Por outro lado, as pinças de ataque castanholam, entusiásticas, naquilo que só pode ser um ritmo frenético de boas-vindas.
— A menina decerto já notou que Sua Ex.ª está a dar mostras de inusitada alegria perante o advento da sua chegada, — explica Mr. Jeeves, sempre formal, mas a fazer de barreira para que Joana não possa recuar um único passo e deitar a correr dali para fora.
Vielmina aproxima-se, sempre a respeitar o percurso do empedrado, cumprindo uma ordem sequencial de espirais, ângulos rectos e aparentes retiradas estratégicas, como se devesse respeitar rigorosamente o caminho traçado no chão. Por fim, já muito próxima, com mais de dois metros de altura a partir do ângulo recto que o tronco faz com o resto do corpo, as mãos enluvadas deixam de rodopiar e estendem-se em frente, como se os membros tivessem capacidades telescópicas, para se imobilizarem a poucos milímetros das orelhas de Joana. Esta interroga-se se a Embaixadora a vai agarrar pela cabeça e osculá-la nos lábios, como é próprio das tias e das avozinhas senis. Por esta altura, se não tivesse tomado o transformador olfactivo, já estaria decerto a vomitar, como acontece com os restantes membros da espécie humana quando lidam de perto com os Spiertvick’kap. Mas a verdade é que a Embaixadora cheira a qualquer coisa parecida com pãezinhos quentes, a bolo de laranja acabado de cozer, a uma fatia de tarte de maçã a nadar num lago de natas geladas. A aura que a envolve é uma aura de total comestibilidade, como se a criatura não desejasse outra coisa senão ser devorada.
Finalmente, imóvel perante o corpinho de Joana que, honra lhe seja feita, não recuou um só passo, Vielmina Spratzt estende as mãos enluvadas (quatro dedos oponíveis na extremidade de cada um dos braços) e afaga os cabelos da rapariga, uma, duas, três vezes, como se quisesse chegar às orelhas que se escondem do outro lado. Joana sorri para mostrar os dentes, num gesto que pretende indicar que a sua espécie também estraçalha presas incautas desde há três milhões de anos. E enquanto sorri, sente o corpo a produzir feromonas de defesa. Feromonas exóticas, compatíveis com as de um Spiertvick’kap. Pelo ar em volta, dançam já as primeiras imagens alucinatórias, para as quais Joana ainda não conseguiu arranjar um significado contextual. Que importa? A Embaixadora iniciou o discurso de recepção e boas-vindas, com a voz a brotar-lhe do mini-tradutor semântico que traz ao pescoço, preso por uma fitinha azul, um cilindro com a mesma forma e tamanho de qualquer um dos componentes de Mr. Jeeves.
— Saudações calorosas, gostosa menina…Que doce, que snack, que petit-four…Que maravilha crocante tenho o gosto de receber à minha mesa…
Joana tossica, aclara a voz, e responde na mesma moeda:
— Vossa Ex.ª . também me aparece como absolutamente comestível, pode crer…
— Ah! — Exclama a Embaixadora, fazendo castanholar as pinças inferiores ao ritmo de uma melodia que aparentemente está na moda entre os humanos. — E com humor…Com um sentido apurado das não-verdades…O elemento educativo ideal para distrair e educar a ninhada durante a minha forçada ausência. Pronta para o processo pedo-correlacional, estimada humana Joana?
— Sra. Embaixadora…
— Vielmina, por favor, trata-me por Vielmina!
— Haja respeito, Excelência! — Estridula Mr. Jeeves. — Demasiada convivialidade corre o risco de provocar incidentes territoriais…
Vielmina ergue no ar uma das pinças, num gesto que tanto pode significar uma ameaça de estropiação eminente como uma mera expressão de enfado.
— Sou eu quem elabora os protocolos inter-espécies, Extensor. Sou eu quem decide se devemos ou não tratar-nos por tu. Menina Joana, as nossas relações com a espécie humana sofreram hoje um incremento deveras positivo. Um acto que eu estou certa que se repetirá amiúde.
— Tomar conta dos meninos? Mas Sra. Embai…digo, Vielmina. Eu nunca tomei conta de putos. Nem sequer de putos humanos. Não faço a menor ideia do que pretende de mim… Com certeza, existem membros da sua espécie mais capazes do que eu…

Chimpanzé Intelectual

Blanca Riestra

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Blanca Riestra nasceu na Corunha, em 1970. Após formar-se na Universidade de Santiago de Compostela em Filologia Hispânica, colabora como jornalista no “ABC” e “La Voz de Galicia”.

Nos anos 90, publica o seu primeiro romance, Anatol y dos Más. Viveu durante seis anos na França onde preparou a sua tese de doutoramento e escreveu o segundo romance La Cancion de las Cerezas com o qual venceu, em 2001, o Prémio Ateneo Joven de Sevilla.

De regresso a Madrid, desenvolve actividade no campo da crítica literária e a escrita, colaborando com vários magazines e jornais espanhóis.

Blanca Riestra é actualmente directora do Instituto Cervantes em Albuquerque, Novo México, nos Estados Unidos.

Em 2005, publica o romance El Sueno de Borges (O Sonho de Borges) e conquista o Prémio Tigre Juan. Uma ficção à volta de um inquietante e recorrente sonho que aflige Jorge Luis Borges nos seus ultimos dias. É eleito o cenário de Praga, cidade povoada de figuras fantásticas que vai de encontro ao séc. XVI onde personagens reais e fictícias nos revelam o último livro de Borges.

No âmbito do lançamento da edição portuguesa de O Sonho de Borges, Blanca Riestra estará presente no Fórum Fantástico com o apoio da Épica, Embaixada de Espanha em Lisboa e Livros de Areia Editores.

Elia Barceló

Numa tentativa de contribuir para um melhor conhecimento da literatura fantástica espanhola, o Fórum Fantástico convida de terras vizinhas uma das escritoras mais destacadas da ficção científica em Espanha, Elia Barceló.

Elia Barceló é natural de Alicante e formou-se em Filologia Anglo-Germânica e Filologia Hispânica, tendo recebido o doutoramento na Universidade de Innsbruck, Áustria, cidade onde reside desde 1981 e onde se tem dedicado às carreiras de escritora e professora universitária de Literatura Hispânica.

Uma das escritoras de ficção científica mais reputadas na língua castelhana, venceu o Prémio Ignotus em 1991, e o Prémio EBEDÈ de literatura juvenil em 1997 e 2006. Tem publicado regularmente romances, ensaios e contos em publicações espanholas e estrangeiras. Juntamente com a argentina Angélica Gorodischer e a cubana Daína Chaviano, compõe a intitulada trindade feminina da ficção científica na HispanoAmérica.

Em Portugal, publicou O Segredo do Ourives (El Secreto del Orfebre, 2003), pela editora Palavra, a história de um rapaz de dezanove anos e uma mulher mais velha no território imaginário e mágico da Umbria, desenvolvendo-se a história em três tempos diferentes: os anos cinquenta, os anos sessenta e o último ano do século XX.

Tão breve quanto intensa, tão fácil de ler como difícil de esquecer, tão sensível nos seus recursos como inquietante nas suas recordações, esta é uma história de amor. Um desses raros exemplos nos quais a literatura se lança sem medo de abordar os temas eternos e fá-lo para que nos possamos questionar: Será o tempo mais forte do que o amor? De que forma se eterniza a beleza? Será o corpo um mapa do desejo com prazo de validade? Pode o desejo alterar a realidade?

Com o patrocínio da Épica e a Embaixada de Espanha em Lisboa, Elia Barceló estará presente no Fórum Fantástico 2007 para apresentar as suas obras e ideias sobre literatura fantástica.